Carnaval Tradição conta com desfiles dos maracatus Pé de Elefante, Baque Mulher e Quilombo Nagô

Os grupos de Maracatu Nação Pé de Elefante, Baque Mulher e Quilombo Nagô desfilam nesta segunda (3) e terça-feira (4) na Avenida Duarte da Silveira, no Centro de João Pessoa. Os desfiles marcam a estreia oficial dos desfiles de maracatus na programação do Carnaval Tradição, promovido pela Prefeitura Municipal, por meio da sua Fundação Cultural (Funjope), dentro do projeto ‘Folia em Sol Maior’. O acesso é gratuito. Seis grupos de maracatus desfilarão, ao todo. Os desfiles começam às 17h.

O diretor da Funjope, Marcus Alves destacou a inclusão oficial dos Maracatus no Carnaval Tradição. “Nós fizemos esse trabalho já há cerca de dois anos. Nesse período a gente vem conversando, dialogando com os Maracatus, organizando para dar visibilidade e para promover o fortalecimento da cultura do Maracatu na cidade de João Pessoa. E o resultado é esse que nós estamos vendo agora no Carnaval Tradição, eles passaram a ser parte integrante do processo”, comentou.

Para Marcus Alves, os maracatus são merecedores desse tratamento e contam com o compromisso do governo de Cícero Lucena com as culturas populares, de valorizar, estimular, proteger a tradição e a memória da cidade de João Pessoa. Ao todo foram incluídos seis grupos – Maracastelo, Tambores do Tempo, Batuque de Raiz, programados para desfilar no final de semana de carnaval, e Maracatus Nação Pé de Elefante, Baque Mulher e Quilombo Nagô.

Em média, são 20 minutos de apresentação de cada grupo na avenida. Os desfiles do Carnaval Tradição acontecem de 1º a 4 de março, datas oficiais do carnaval em todo o país. Além dos grupos de Maracatu, tomam conta da avenida os desfiles de ala-ursas, tribos indígenas, orquestras de frevo e escolas de samba.

Maracatu Nação Pé de Elefante – O grupo se apresenta na segunda-feira (3) de carnaval das 17h às 17h20. “A gente vem com grande expectativa para este ano, confeccionando novos figurinos, uma estampa própria, roupas novas para as nossas caterinas, adereços para nossas damas, nossas bonecas calungas também, além de construindo um novo estandarte e buscando trazer toda novidade e toda evolução que a gente puder para esse momento. A gente vem com um repertório bem trabalhado, com evolução de percussão, cantos, dança, coreografia. Vai ser muito bacana esse ano”, explica Mestre Fernando Trajano.

Ele exalta a inclusão dos Maracatus na programação do Carnaval Tradição este ano e acrescenta que isso representa um marco histórico. “É muito importante essa inclusão dos maracatus no Carnaval Tradição porque além de todo o movimento que a gente vem buscando construir e fortalecer, a gente vem fazendo uma retomada dessa cultura do maracatu que existiu na nossa cidade em décadas passadas. Hoje temos seis grupos e temos essa garantia de que todo ano os maracatus estarão dentro do Carnaval Tradição. A gente recebe esse incentivo para se organizar com os figurinos, estandartes, adereços e logísticas de transporte, alimentação, água, que é bem puxado para os grupos”.

O Maracatu Nação Pé de Elefante foi fundado em maio de 2008, no bairro de Mangabeira, em João Pessoa, e atualmente tem suas atividades concentradas no bairro do Varadouro. A iniciativa foi do artista popular Fernando Trajano, sob influências de manifestações culturais locais e regionais, com o apoio do Maracatu Nação Estrela Brilhante, de Recife (PE) que se tornou o padrinho cultural do Maracatu Pé de Elefante.

“O processo de criação no Maracatu foi bem extenso. Eu sempre tive essa conexão com a percussão, com a confecção e tinha amigos que se juntavam para fazer música, trabalhos culturais. Comecei a ampliar a questão da percussão, dando oficinas de percussão e explorando os ritmos nordestinos (…) e daí explorando a ideia e o projeto de fundar um maracatu verdadeiro, um maracatu de tradição, de raiz. Atualmente, o trabalho do grupo vai além das festividades carnavalescas e contribui social e culturalmente ao realizar oficinas abertas de percussão, dança e confecção e manutenção de instrumentos, roupas e adereços durante todo o ano”.

Maria Isabel, designer gráfico, conta como tem sido sua experiência no grupo de maracatu. “Participar do Maracatu Nação Pé de Elefante é mais do que fazer parte de um grupo cultural, é viver a resistência e a ancestralidade na pele. Mais do que tocar e dançar, fazemos parte de uma tradição que resgata e fortalece nossas raízes afro-indígenas, aprendemos sobre ritmo, história, resistência e pertencimento, ao mesmo tempo em que construímos um espaço de inclusão e acolhimento. É um lugar onde a cultura se mantém viva, não apenas nas apresentações, mas no dia a dia, nas trocas, nas oficinas e no compromisso de levar o maracatu adiante”.

Baque Mulher – Fundado em 2008 pela líder social e religiosa, Joana D’Arc Cavalcante, o movimento nasceu na Comunidade do Bode, bairro do Pina, em Recife-PE e se estendeu pelo Brasil e pelo exterior, contando atualmente com 36 filiais no Brasil, na Bélgica e Portugal. Há cerca de 30 anos as mulheres não podiam tocar os tambores do maracatu, vinham apenas como apoio, tinham que se travestir de homem, botar calça, prender cabelo. Em 2008, a Mestra Joana quebra esta barreira e o Movimento Baque Rosa e Laranja se espalha pelo Brasil e exterior, colocando a mulher para tocar alfaia, que é o tambor, agbê, gonguê, ganzá, caixa, timbal e para apitar.

“Em João Pessoa o maracatu nasceu em 2017 como um movimento musical e social, atuando como uma rede de apoio e formação sociocultural voltada a mulheres e crianças no enfrentamento ao machismo, racismo, violência contra a mulher, a LGBTfobia e apoio a demandas decorrentes de vulnerabilidades sociais”, explicou Aniely Mirtes, coordenadora do grupo na capital.

Segundo ela, o Baque Mulher é formado por crianças, jovens e adultos, pessoas de 6 a 70 anos de idade, e apresenta músicas autorais, da percussão e da dança, voltada ao resgate e manutenção da diversidade cultural existente no país. “O grupo une uma apresentação carregada de energia à expressão feminina de luta e resistência contra o racismo e machismo ainda presentes na sociedade”.

A técnica de enfermagem, Anely Mônica (Lila) participa desde 2020 e diz que encontra no Baque Mulher um refúgio. “Para mim é um lugar de conforto, onde eu renovo as minhas energias, cantando as loas, que são as músicas tocadas pelo Maracatu, que falam dos orixás e sobre a importância da Lei Maria da Penha, por que nós temos músicas autorais de Mestre Joana Cavalcanti e de outras manas. Cantar essas loas me empodera, me conecta aos meus ancestrais, à espiritualidade, aos orixás, à jurema sagrada, aos exus, às pombas giras. É um lugar que eu posso ser a mulher que eu sou, preta de periferia. Eu estou no meu lugar. É um lugar de tranquilidade”.

Maracatu Quilombo Nagô – O maracatu Quilombo Nagô desfila na avenida entre 17h e 17h20 da terça-feira (4). “Este ano o grupo contou com a preparação da artística visual Bárbara Quintino, que fez o figurino em diálogo com o Mestre Marcílio Alcântara, com base no contexto da espiritualidade e dos seus símbolos”, explica Cínthia Araújo, membro da diretoria do Quilombo Nagô.

O grupo surgiu no bairro de Mangabeira com a intenção de ser um espaço de encontro, de valorização da cultura popular e da cultura negra e dos seus elementos simbólicos religiosos, principalmente voltados para os jovens. “O grupo foi criado em 2 de fevereiro de 2023, mas a vontade que ele existisse, é muito anterior. Foi idealizado pelo pernambucano Mestre Marcílio Alcântara, nascido em Recife, no bairro de Água Fria, no Alto do Pascal, lugar onde nasceu o maracatu de baque virado”.

O Mestre Marcílio tem suas origens na escola de samba Gigante do Samba e no Maracatu Estrela Brilhante do Recife e no Maracatu Raízes de África. “Em João Pessoa, foi um dos fundadores do Maracatu ‘Pé de Elefante’, junto com Fernando Trajano e do ‘Tambores do Tempo’, na condição de educador da Escola Viva Olho do Tempo. A fundação do grupo Quilombo Nagô tem relação com esse processo coletivo”, explica Cínthia.

“É importante frisar que a gente consegue perceber que o maracatu é feito para qualquer pessoa. Maracatu não tem idade, gênero, não é homem, não é mulher, não faz discriminação de sexualidade, de idade”, conclui.

Programação dos Grupos de Maracatu no Carnaval Tradição 2025 na Avenida Duarte da Silveira – Centro

  • Pé de Elefante – segunda (3) – 17h às 17h20
  • Baque Mulher- segunda (3) – 17h20 às 17h40
  • Quilombo Nagô – terça (4) – 17h às 17h20

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